Perdi a aurora e a castidade com que nasci
Perdi a frescura de um tempo
Perdido na busca de coisa nenhuma
Para ti, por ti, e sem mim
Acendi a luz da secretária e sente-me
Com as letras que restam no meu jardim
Imaginário de sempre
Perco-me em orgasmos de palavras
Perco-me na busca de um prazer
Sempre imediato nas coisas que escrevo
Que nenhum valor têm
Se não ou nem sequer para mim
E passei a africanizar-me
Cada vez mais, africanizar-me
Assumir origens de uma língua
Que ninguém conhece e em que todos pensam
Buscar
Vou atrás da minha terra, dar-lhe prazer
À minha custa, e à tua se um dia para lá
Caminhares
Voa, se falas passarês, com as asas
Depenadas e a sangrar
Com a tinta de letras e as marcas do tempo
Nunca penses que o sofrimento é só teu
Não tenhas essa ilusão, sonha antes
Que deste desalento a quem te quis ganhar, e conseguiu,
Mas perdeu a virgindade de palavras
Que só a ti dirigiu um dia.
E vamos agora para onde?
Dar as mãos e correr voando e mergulhando
Entre alento e desalento
Entre prazer e amargura
Entre alegria e tristeza
Entre ti e entre mim
O que nos resta?
Se não as palavras, o tempo, passado e…
O nosso futuro? Africanês?
Saint Jacques
Setembro de 2009