terça-feira, 15 de março de 2011

Africanês

Africanês

Perdi a aurora e a castidade com que nasci
Perdi a frescura de um tempo
Perdido na busca de coisa nenhuma
Para ti, por ti, e sem mim

Acendi a luz da secretária e sente-me
Com as letras que restam no meu jardim
Imaginário de sempre
Perco-me em orgasmos de palavras
Perco-me na busca de um prazer

Sempre imediato nas coisas que escrevo
Que nenhum valor têm
Se não ou nem sequer para mim

E passei a africanizar-me
Cada vez mais, africanizar-me
Assumir origens de uma língua
Que ninguém conhece e em que todos pensam
Buscar

Vou atrás da minha terra, dar-lhe prazer
À minha custa, e á tua se um dia para lá
Caminhares

Voa, se falas passarês, com as asas
Depenadas e a sangrar
Com a tinta de letras e as marcas do tempo

Nunca penses que o sofrimento é só teu
Não tenhas essa ilusão, sonha antes
Que deste desalento a quem te quis ganhar, e conseguiu,

Mas perdeu a virgindade de palavras
Que só a ti dirigiu um dia.
E vamos agora para onde?

Dar as mãos e correr voando e mergulhando
Entre alento e desalento
Entre prazer e amargura
Entre alegria e tristeza

Entre ti e entre mim
O que nos resta?
Se não as palavras, o tempo, passado e…

O nosso futuro? Africanês?

Saint Jacques
Setembro de 2009

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