terça-feira, 15 de março de 2011

Dei-te asas

Dei-te asas

Este amor em visita, é o espelho em águas, escrito por Helder Herberto, para nós. Sei que o tempo tem asas, tem água, tem amor e ódio, tem-nos a nós.

O tempo não nos teme, nós o tememos, um e outro. E sabemos o que ele nos quer dar: asas e água.

Este poema de Herberto Helder, diz nos destaques o que quero, o que não quero, o medo e a coragem, a amor e a intimidade, a que outros apelidam de sexualidade - tanto faz - seja intimidade, porque estou a falar de mim -, de desejo e afastamento, de ti e de mim, de nós e de outros, de encontros e desencontros, do que tens e não tens, do que tenho e não tenho, do que sou e não sou, do que és e não és... de tudo: de nós, em suma.

Somos uma mistura de tudo. De amor, de paixão (muita temida), de poesia, de agonia. De fuga, finalmente.

Dei-te asas

Dei-te asas
e deitei-lhe o fogo e o sal
Rebentou e Explodiu
Não estavas à espera, nem eu queria de soubesses
que o meu tempo te estava destinado
mesmo comigo a não te querer

Queria amar e dei-te asas
Queria amar o Sal que é meu e do Mar
Queria desamar o Fogo, que eu própria
e a natureza fiel criámos para Nós
para apagar o fogo desnatural que exara
o teu corpo e o de outros homens

Queria amar e dei-te asas
Queria amar as escamas malcheirosas de peixes
dentro o seu mundo impenetrável de profundezas
e águas escuras, onde ninguém
nem tu, conseguem chegar

Queria amar e dei-te asas
E pensei que soubesses alguma coisa
de Bem e Mal e de Sal e Mar
Mas não, sabias de Terra e Fogo
Ardor e Pântanos onde
Resvalas a tua vida incessante
Mente e desequilibrio
de Corpo desencorpado de uma criatura

que te fez parir sem vontade e contra
essa tua natureza

Queria amar e dei-te asas
As asas de pássaro desvairado
com escamas e molhado
que se não deixa apanhar, agarrar ou pescar

Queria amar e dei-te asas
Corre, voa, nada com ele
Não o apanharás nunca, deixa para trás aquele outro corpo
desencontrado de ti
e est'outro que te foge, sempre e sempre

Mas se deixa encontrar
Queria amar e dei-te asas
Vem procurar

Saint Jacques, 20 de Fevereiro de 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário