terça-feira, 15 de março de 2011

Ode ao Peixe Voador

Ode ao Peixe voador-fumador

Envelheci.
Aprendi a fumar, a parir e a chorar.
Obrigaram-me a ler sem que eu quisesse e a saber qualquer coisa que é coisa nenhuma.
Envelheci.
Quis fumar todos os tabacos do mundo só porque queria saber ao que sabiam
Quis fazer as palavras dos homens, porque queria ter nascido assim,
Mas não, fizeram-me outra coisa qualquer
Envelheci
Não sei nada e clamo pela perfeição de voar
Mas faltam-me eternas asas
Daquelas que escreve um White, de Moçambique,
Ou daquelas de um Pessoa, perdido em tabacos de tabacarias.
Deixei de fumar.
Continuei peixe e voador. Fiz-me homem.

Envelheci
Depois pari, clamei pelo Deus de todos os templos
Que sempre me chora à noite dizendo que também é pequenino
Como eu, mas não envelhece, como eu

Envelheci
Não sei nada a não ser que não consigo dizer coisa nenhuma
Misturada em 10 ou 20 o 30 pensamentos seguidos vazios e sem sentido
Tri, no sentido em que gerei, e por outros clamei

Envelheci
Amo e desamo as escamas que sempre regeneram o tabaco
De um peixe voador e fumador
É a forma mais segura de o ter, voando e fumando

Envelheci
Aprendi letras e não as sei dizer
Aprendi os números sem os saber contar
Aprendi que existem pessoas, pretas e brancas como eu

Ou só pretas e só brancas como os que sempre teimam em me rodear
Envelheci

Anje qui cloçon mum ça nê?
Pergunta ao mar que recebe e vê dele fugir o seu peixe mais adorado
Aquele que voa em tempos e a ele sempre regressa
Odes de vento e tempestade, foge que é assim a natureza
De um bicho selvagem, nascido de uma terra, xá dji caçô mancé

Peixe que fuma os cigarros das saudades
Em areias do tempo com as palavras escritas pela mão do homem
Que sem saber ama em ódio o peixe do mar, dizendo-lhe, só a ele, coisas de fantasiar.
Que mais ninguém ouve.
Só este mar. meu.
Onde sempre mergulha para nele me encontrar.


Saint Jacques, 10 de Março

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